#clandestina31

29 anos

Descobri que estava grávida aos 29 anos, sou branca, candomblecista e vivo na Zona Leste de São Paulo. Morava – e ainda moro – com meus dois filhos, uma menina de 4 anos e um menino de 1 ano.  Engravidei de um namorado que ao ficar sabendo me abandonou. Tenho obesidade mórbida e sou hipertensa. Além de não querer a gravidez, por ter sido abandonada e não estar nos planos, me encontrava desempregada. Fiquei aflita, porque meus filhos dependem apenas de mim e a gravidez poderia me trazer complicações de saúde.

Aquela gestação não podia prosseguir, o desespero aumentava na medida em que os dias passavam. Procurei no bairro alguém que me ajudasse. Encontrei uma amiga enfermeira que me apoiou e que me levou para conversar com ativistas feministas. Lá pude entender como era possível interromper a gravidez de maneira segura com o cytotec, claro, usando da forma correta.

Consegui os comprimidos por meio de uma doação. Eu não teria condições de comprar. O processo foi rápido e tranquilo. Coloquei os 4 comprimidos de uma vez e 3 horas depois mais 2. Em poucos dias estava de volta cuidando das minhas coisas e batalhando por trabalho.

Nunca mais voltei pra quem me deixou nessa situação e nunca mais tomei um susto como aquele. Não sofri nenhum episódio de violência, julgamento moral, fui apoiada por todas minhas amigas devido a minha situação. Minha família nunca soube, só amigas próximas. Não tive nenhuma sequela, nenhuma intercorrência.

Sou a favor da legalização do aborto, pois uma mulher tem o direito de escolher se deseja ter ou não um filho. A responsabilidade de não colocar vários filhos no mundo que não terá condições de cuidar e um ato de amor tanto com ela, quanto com os filhos que já tem.

Os filhos são sempre da mãe e os homens estão cada dia mais irresponsáveis e fugindo das obrigações  da paternidade. A mulher já sofre muito com discriminação em todos os setores e o mínimo que ela deve ter é o livre arbítrio pra decidir se deseja ser mãe ou não.

Sou uma clandestina. Não me arrependo, faria novamente e espero não precisar tomar essa decisão novamente, mas se acontecer farei de novo, e por questão tanto de saúde como de dar uma condição de vida para meus filhos.