#clandestina53

Finalmente posso escrever este depoimento com um respirar de alivio. Esse último mês foi um dos piores da minha vida. Quando se descobre algo como uma gravidez todo o resto da vida parece que começa a não fazer sentido, pelo menos comigo foi assim. Sou universitária, estou apenas começando meu segundo ano de faculdade, e em meio a descuidos e confiança em quem não deveria acabei me vendo nesta situação. Assim que descobri eu tinha apenas duas certezas, a primeira era que talvez somente uma pessoa me apoiasse na minha decisão sem fazer perguntas, e essa pessoa com toda certeza seria minha irmã, a segunda é que eu queria realmente interromper esta gravidez.
Foi então que contei para ela sem hesitar e a primeira coisa que ouvi foi – estou contigo mana – , apesar daquelas palavras terem me confortado , nós precisávamos procurar as alternativas reais para realizar o que eu queria.
Fui para São Paulo passar as férias, e foi onde consegui todas as informações que precisava, claro que as buscas na internet me levaram para lugares que cobravam muito caro pelo processo e que tratava do caso meramente como algo comercial, isto foi me deixando cada vez mais assustada. Foi então que começamos a conversar com outras mulheres que já tinham passado por essa situação, ou que conhecia amigas, enfim… Tudo se acertou, achamos uma fonte segura, a pessoa nos encontrou em um lugar discreto e todo o processo nos foi apresentado, desta vez, sem intenção de pagamento , a principio o que havia naquele encontro era de fato somente a sororidade feminina.

Ao final do encontro já tínhamos acesso ao medicamento e todas as instruções, uma contribuição era pedida, para que o remédio pudesse chegar para outras mulheres.
Feito isto, organizamos o melhor dia para a realização do processo, e então demos continuidade. Eu posso dizer que as primeiras horas são simplesmente horríveis, as cólicas vem em uma intensidade muito forte, o vomito é intenso mais passa rápido, os calafrios são rápidos mas intensos e o sangramento é forte, mas um ambiente calmo ajuda a melhorar todos os sintomas. Tomei os remédios em duas doses, a primeira de quatro comprimidos e a segunda com dois comprimidos, durante a noite tive certeza que o processo tinha sido concluído, pois saia muito coagulo junto com a menstruação. No dia seguinte voltamos para a casa e os três dias consecutivos são dias chatos, um pouco de cólica, sangue intenso e somente.

Cinco dias depois de ter realizado o processo fomos ao médico para checar se estava tudo ok e se não precisaria fazer a curetagem ( as vezes precisa realizar este procedimento para retirar possíveis restos que podem ficar grudados na parede do útero ).Para minha sorte e alivio o médico foi super atencioso e não me fez nenhuma pergunta invasiva, o que tornou a consulta bem mais fácil, me deu o diagnóstico final e realmente, estava comprovado, eu teria sofrido um ”aborto expontanêo”.

Abortar deveria ser um direito, não é certo passarmos por tanta pressão da sociedade e sermos julgadas por não querer continuar uma gravidez, no começo o desespero bate a nossa porta, mas temos que pensar que não estamos sozinhas e a cada vez mais tem mais pessoas aderindo e nos ajudando na causa. QUALQUER mulher tem o direito sobre o seu corpo, procurar apoio familiar é essencial, e estar aberta para apoios externos também (mulheres que eu nunca tive contato na vida me ajudaram imensamente ), a ajuda também veio do meu cunhado, que mesmo sendo homem, se mostrou uma pessoa livre de qualquer rótulo, a todo momento pensando somente no meu bem estar. VAMOS ERGUER NOSSAS CABEÇAS E SEGUIR COMO QUISERMOS ! MEU CORPO , MINHAS REGRAS !

#NENHUMAAMENOS #FEMINISMO # ABORTOÉDIREITO

SIM. A legalização precisa acontecer o mai rápido possível, somos humilhadas e rotuladas pela sociedade por querer interromper uma gravidez, quando na verdade este assunto não se restringe a questão moral, e sim a escolha de cada uma. Devemos ter o direito sobre nossos corpos, e a legalização é somente um passo ( por maior que seja ) para que possamos ser tratadas com dignidade.
O setor de saúde do nosso pais não está preparado para lidar com este tipo de situação e se deparar com um funcionário mal preparado em um momento delicado como este pode ser fatal.

O aborto é possível, o que decidirá se ele se concretizará ou não , infelizmente é a situação financeira da mulher, e isto não pode continuar por muito tempo. Mulheres pobres e negras estão morrendo por falta de atendimento adequado, sofrendo julgamento e se culpabilizando por um direito que deveria ser delas deste sempre.

 

não tenho filhos, tenho 20 anos

não.