Eu estava saindo de um casamento péssimo, todo baseado em mentiras… Casei pelo pior motivo possível, engravidei. E seis anos depois, não havia mais sentido continuar levando aquilo a diante, e me separei. Num momento de desespero/carência, tive uma recaída que durou exatamente uma noite.
Semanas depois, notei que minha menstruação estava atrasada e quase morri de ódio de mim mesma por ter sido tão descuidada. Eu não tinha como cuidar de um bebê, além da minha filha que morava comigo. Confesso que não cheguei a pensar duas vezes. Liguei pra meu ex e só pedi que ele me ajudasse com a grana pra comprar os remédios. Ele ainda ensaiou um peso na consciência medíocre, mas eu nem deixei ele terminar com o teatro. Imaginar a situação de ter que conviver com ele, e ter outro filho de alguém tão fraco, nem passava pela minha cabeça.
Eu estava terminando a faculdade, estava trabalhando e minha vida finalmente estava começando a entrar nos eixos…
Fiz tudo sozinha: falei com mil pessoas, e finalmente recebi um contato de um cara que trabalhava numa farmácia no centro da cidade. O cara foi gentil, me aconselhou, me disse que da próxima vez tomasse mais cuidado… Foi uma ilha de bondade no meio daquilo tudo. Tomei os remédios em casa e foi tudo muito rápido, menos dolorido do que eu imaginei.
O tempo passou, conheci meu atual marido e hoje temos dois filhos que foram muito desejados e planejados, além da minha filhota que agora faz faculdade! Em nenhum momento me arrependi da decisão que tomei, faria de novo, e de novo.
A única coisa que me deixa realmente triste é saber que durante alguns dias me comportei como uma criminosa, e chego a pensar se algo tivesse dado errado, a quem eu iria recorrer?
Minha luta é para que a interrupção da gravidez seja descriminalizada e que essa decisão fique na mão da única interessada na história: a mulher.