#clandestina45

Eu tinha 28 anos e namorava há um ano. Trabalhava em uma pequena agência de publicidade há pouco mais de um mês, e aquele estava bem longe de ser o emprego dos meus sonhos: mal remunerada, um ambiente ruim.

Tomava anticoncepcional, mas vivia esquecendo o horário da pílula. Acho que foi isso que fez com que eu engravidasse, sem querer nem planejar. Algumas semanas depois, eu comecei a desconfiar: estava me sentindo estranha, seios inchados e doloridos, muito sono, enjoo.

Contei para o meu então namorado sobre as minhas suspeitas, e ele ficou muito bravo. Hoje, sei que ele ficou assustado com a possibilidade de ser pai, sem a menor estrutura para isso. Quando fiz o teste e vi que estava mesmo grávida, procurei meios para resolver o problema. Alguns amigos me indicaram chás (tomei todos!), outros indicaram o Cytotec.

Meu namorado era contra o remédio e disse que, se eu quisesse abortar, que fizesse isso em uma clínica, que fosse seguro para mim.

Ele ficou ao meu lado o tempo todo, durante o tempo que tivemos para decidir entre nos tornarmos pais ou fazer um aborto. Foram 15 dias de muitas conversas, muito choro, muita cumplicidade. Conversamos com outros amigos que tinham passado pelo mesmo problema e todos foram muito solidários.

Por fim, decidimos pelo aborto. Ele não tinha dinheiro, estava desempregado e fazendo freelas. Eu tinha um dinheiro guardado e foi com ele que paguei o aborto.

Meu namorado foi comigo e esteve ao meu lado durante todo o tempo. Quando acordei da anestesia, pedi para que chamassem meu namorado, que entrou no quarto com uma cara de muito assustado, me abraçou e disse “que bom que você está viva. Que alívio!”. Ele também sofreu e sentiu medo, junto comigo.

O médico logo veio conversar conosco, disse que o procedimento tinha sido um sucesso e pediu que retornássemos dali a uma semana. Eu me senti muito mal depois, emocionalmente falando. Tive síndrome do pânico, entrei numa depressão horrível, fiquei muito tempo sem conseguir nem sair de casa, só chorando, de dor e culpa. Demorei muito para conseguir retomar minha vida. Muito mesmo. Casei com o meu namorado e não temos filhos, nem pretendemos ter.