Negra, 21 anos, Teixeira de Freitas (Bahia).
Descobri que estava grávida em Abril deste ano, havia começado a minha pesquisa de TCC, meu mundo vi desmoronar. Nunca desejei ser mãe, até então quando me vi nessa situação não pensei em continuar com a gestação, meu companheiro disse que a escolha que eu fizesse seria a melhor e fizemos. Foram 4 anos tomando anticoncepcionais e eles pararam de fazer “efeitos”.
Logo procurei por uma amiga que já havia feito um aborto com o Cytotec, ela me negou ajuda alegando que por eu ser uma mulher casada e com uma casa teria sim condições em ter um filho, logo fomos procurar em sites de venda do remédio, apostamos na sorte e entramos em contato com um vendedor, depositamos 800,00 e o cara simplesmente sumiu, pensamos no golpe e entramos em desespero, depois de 3 dias sem notícias nenhuma do vendedor, conseguimos um contato da minha cidade que indicaram fazer o procedimento via intravaginal mas não funcionou depois de 24h o remédio saiu todo da minha vagina , no mesmo dia recebi a entrega do suposto golpista, tive muito medo, quem iria me garantir que esses remédios funcionariam também?
Eu já não saia da cama, choros constantes, socos que eu dava na minha barriga, nem me olhava mais no espelho. Esperamos uma semana e fizemos novamente o procedimento desta vez 4 remédios na boca e depois de 4 horas + 2, em menos de 10 minutos após ter colocado a primeira dosagem com os 4 comprimidos comecei a sentir cólicas e depois as contratações foram aumentando, fizemos tudo isso sozinhos em casa, nunca imaginei que aos meus 21 anos me tornaria uma mulher tão forte depois do aborto.
Por ser uma mulher negra, vindo da periferia sei o quanto o aborto clandestino mata nossas manas todos os dias, o sistema faz com que apenas as mulheres ricas possam fazer com segurança enquanto nós, pretas e periféricas não temos assistência psicológicas muito menos financeira. A legalização do aborto fará com que as manas do meu bairro, da minha cidade possam tomar suas decisões.
As minhas amigas que tiveram filhos aos 15 e hoje, sem seus respectivos companheiros, vivem sozinhas com seus filhos nos braços sem ensino médio completo sem um trabalho. Poderia ter sido eu aos 15, mas fui aos 21.