#clandestina72

Branca, 21 anos, São Paulo.

Eu descobri que estava grávida com 5 semanas.

Minha menstruação havia atrasado alguns dias e eu estava bem nervosa, visto que meu ciclo é sempre regulado. Tinha passado por muito estresse e ansiedade recente e tentei transferir a causa do atraso a isso…

Tenho 21 anos e meu namorado também, estudamos e não trabalhamos, ainda estamos à procura de uma oportunidade no mercado.

Como eu passo mal com anticoncepcional, nós utilizávamos preservativos ou até coito interrompido.

Mas, quando o atraso chegou a 6 dias, eu e meu namorado resolvemos fazer o teste de farmácia, que imediatamente deu positivo. Fiquei desesperada e permaneci no banheiro por um tempo, anestesiada, tentando digerir toda a informação… Abri a porta e comuniquei a ele o resultado, já aos prantos de tanto chorar. Ele logo tentou me acalmar e neste momento ficamos em choque por uns minutos.

Somos dependentes, não temos nada, não teria contexto para inserir uma criança ali… Não tínhamos dinheiro nem pra nos sustentar direito, quanto mais sermos responsáveis pelo desenvolvimento de um ser humano…

Fiquei em pânico.

Conversamos sobre o que fazer e, visto o contexto, decidimos procurar um meio de interromper a gravidez. Não queríamos ter um filho pra passar fome, não ter onde morar, não ter acesso à saúde e uma educação de qualidade…

Enfim, quando decidimos abortar, começamos a pesquisar na internet depoimentos de outras mulheres que abortaram, onde conseguir etc.

Primeiramente, eu iria utilizar o aborto farmacológico, que pediria à uma ONG, mas como poderia demorar e também fiquei receosa de não ser 100% eficaz, comecei a procurar abortos realizados em clínicas.

Milhões e milhões de pensamentos passavam na minha cabeça diariamente, 24h por dia. Milhões de sensações. Picos de humor, muita dor. Medo. Mas, no fundo, estava certa do que fazer.

Fomos a um médico ginecologista que escolhi a dedo, na cidade de São Paulo, para contar o meu caso, o qual me recomendou uma clínica que poderia me ajudar, passando endereço, valores, etc.

Não tínhamos o dinheiro e eu cogitei ir em uma clínica clandestina mais barata pelo desespero, porém meu namorado não concordou e pediu emprestado o dinheiro a um amigo, para que tudo fosse feito com segurança.

Realizei o aborto com um mês de gestação nessa clínica de alto padrão indicada pelo médico, também em São Paulo, e fui extremamente bem tratada. Todos os envolvidos conversaram e me explicaram com calma como tudo seria feito.

O procedimento custou R$4.500 e foi tranquilo. Fiquei em jejum por 6 horas, fui sedada e dormi durante todo o procedimento. Em seguida, fiquei em observação por aproximadamente 1 hora e, nesse período, o médico e a enfermeira passavam para ver como eu estava, me dar o que comer e todo o suporte necessário. Senti cólica e algumas dores na região abdominal.

Essas dores duraram cerca de 5 dias, junto com o sangramento pós-aborto.

Após dois dias que realizei o procedimento, fui até a clínica do médico inicial para fazer um ultrassom e ver se ocorreu tudo bem.

Os dois médicos me acolheram e ofereceram todo o suporte de retornar e entrar em contato caso não estivesse me sentindo bem ou tivesse alguma dúvida, o que me deu muita segurança.

Já faz um tempo que tomei essa decisão e, apesar dos apesares, não me arrependo. Embora eu tenha sofrido muito psicologicamente, e ainda sofro, nós não teríamos condições financeiras e psicológicas para que eu desse continuidade à gestação.

Me peguei inúmeras vezes pedindo desculpas a minha barriga de um mês que nem existia, mas tenho certeza que tomei a decisão certa para que, no futuro, quando eu estiver pronta, ele venha e nós possamos proporcionar uma vida maravilhosa a ele(a).

Espero que minha história ajude outras mulheres que estão em desespero no momento.

Sou a favor da legalização do aborto por que acho que cada um tem sua história e suas condições de vida para decidir sobre o que é melhor para si e para as pessoas que se ama.