#clandestina01

23 anos, Campinas.

“Me liguei que estava grávida quando estava com 1 mês e meio de atraso do ciclo, já enjoava e isso foi piorando a cada dia. Falei com meu namorado, compramos o teste de farmácia e deu positivo. Decidimos fazer o de sangue que confirmou o anterior. Um tanto angustiados saímos pra conversar.

Não havia desejo de filhos naquele momento, sem falar no desemprego dele e na precariedade da minha vida financeira. Decidimos tranquilamente que não teríamos.

Saímos para procurar ajuda. Conhecíamos um grupo feminista que já havia ajudado uma amiga. Marcamos a consulta e fomos. Achei que ia ser acusada, coagida, que o lugar seria escuro e feio, além disso, era parte da minha fantasia produzida por anos de participação na igreja que lá teria um homem me aguardando com uma luz baixa e uma avental ensanguentado.

Nada disso! Fui tratada com respeito, a clínica era linda. Marcamos o procedimento para o dia seguinte. Tudo correu bem, sem dor, sem traumas. Na clínica ficou todo o dinheiro da rescisão de trabalho do meu namorado, saímos sem um real na mão e aliviados porém preocupados com tantas mulheres que não tem dinheiro pra pagar o absurdo de um aborto clandestino. Meu namorado, hoje, é meu companheiro”.