#clandestina20

16 anos, Rio de Janeiro.

Eu tinha acabado de fazer 16 anos. Aos 10, meu pai foi embora de casa pra sempre, e minha mãe ficou sozinha tendo que sustentar a mim e às minhas 2 irmãs. Ela sempre foi uma pessoa fria, uma mãe bastante distante. Depois desse episódio então, eu praticamente não a via, mesmo morando na mesma casa.

Tive meu primeiro namorado aos 15 anos, a gente se “amava” (a última coisa que se poderia chamar era de amor…). No início, ele era o homem perfeito. Tinha 23 anos, e era louco por mim, me tratava como uma rainha. E assim foi, durante alguns meses. Após esses meses, eu quis terminar com ele, pois meu “amor” foi se desfazendo, conforme passávamos mais tempos juntos. Ele estava sempre duro, não gostava de trabalhar e gastava toda a minha mesada. Vivia lá em casa, não fazia nada e era meio controlador.

Nessa primeira vez que eu quis terminar, ele não aceitou. Ficou atrás de mim por uma semana, chorando, desesperado, dizendo que me amava demais, blá, blá, blá. E eu acabei voltando. Daí ele ficou ainda mais controlador, e passou a ficar estúpido, grosso. Descobri que ele já tinha sido preso, a partir daí parece que ele não fazia mais questão de esconder bem o verdadeiro ele.

As coisas iam piorando bem, e ele foi ficando cada vez mais estúpido e agressivo. Daí quis terminar com ele de vez, de verdade. Apanhei. Ele não aceitou, mas eu estava decidida, por isso ele simplesmente me bateu. Fiquei apavorada, assustada, e não tinha a quem recorrer, pois não tinha coragem de falar com minha família, e minha mãe meio que cagava e andava pras filhas… A partir daí, vi que estava presa a ela.

As agressões ficavam cada vez piores, e os destemperos dele cada vez mais inesperados. Eu não podia fazer nada e, mesmo sem fazer nada, virava saco de pancada. Ele me ensinou a cheirar e eu entrei num espiral depressivo, vivendo uma relação abusiva, usando drogas, bebendo demais, deprimida, sem perspectiva nenhuma de vida, presa numa situação horrível: um pesadelo.

Mas quis sair dessa, tomei muita coragem, terminei com ele de novo (já pela 10ª vez). Apanhei muito, de novo, por isso. Mas, dessa vez, resolvi me afastar totalmente, da única forma que podia: me prendendo dentro na minha própria casa. Fiquei semanas sem sair de casa, sem atender as varias ligações sem parar daquele psicopata.

Ele apareceu no meu quarto de madrugada, tinha pulado muro, janela, e entrou lá. Eu não quis gritar, não saberia como lidar com aquela situação com minha mãe, minha família. Provavelmente, ela brigaria comigo. Ele me disse que me amava muito, que não vivia sem mim, que preferia morrer se não pudesse ficar comigo, que se eu não fosse dele não seria de mais ninguém, e etc. Forçou a barra pra transar com ele. Me senti acuada, senti muito medo, fiquei paralisada.

Quando ele terminou, falou no meu ouvido essas palavras que estão gravadas, infelizmente, até hoje na minha mente, e me dá repulsa essa triste lembrança. Disse: “Agora você vai ser minha pra sempre, eu fiz um filho dentro de você”. Foi a primeira vez mesmo que ele gozou dentro de mim. Que nojo eu senti, mas, ao mesmo tempo, fui tomada por uma certeza que estava grávida.

Eu não voltei com ele, continuei a fugir dele, e a negar pra mim mesma tudo que tinha acontecido. Mas não deu pra negar por muito tempo. Eu realmente estava grávida. Fiz o exame após me sentir muito mal várias vezes, e já estava com quase 4 meses de gestação. A gestação só avançou tanto pela minha negação e falta de amparo. Mas agora, não tinha como me enganar mais.

Falei pra minha mãe, que logo arrumou uma clínica de aborto. Preço: 2.000, pois eu era menor de idade, o preço era o dobro. Juntas, falamos pelo telefone pro pai da criança, que, inicialmente, queria que eu tivesse o filho. Depois que caiu a ficha, achou que poderia mesmo ser melhor abortar. Mas, ao pedirmos dinheiro pra pagar metade, ele me ofendeu e disse que não daria um centavo, pois eu tinha terminado com ele, portanto ele não pagaria um aborto de filho dos outros.

Nao tivemos saída, minha mãe pagou o aborto. Hoje em dia, sei que foi a decisão mais pesada, porém, a melhor coisa que eu poderia ter feito. Infelizmente, ainda me relacionei com esse crápula depois desse episódio, pois eu não consegui ser forte o suficiente pra me livrar sozinha desse psicopata. O único jeito de ele ter saído da minha vida foi que, quando não tinha mais nada pra me sugar, pra destruir dentro de mim, ele se desinteressou e arrumou outra vítima.

Hoje sou feliz, casada e tenho um filho lindo. Sei que aquele seria um filho indesejado de um bandido que, aliás, foi preso várias vezes depois. Não me arrependo nem um pouco de ter abortado. Apesar de lamentar tudo o que houve e lamentar por aquela vida interrompida.