#clandestina29

12 e 15 anos

A primeira vez que fiz nem sabia o que era isto. Eu tinha uns 12 anos e meu avô abusava de mim. Mas eu achava que ele podia fazer aquilo. Um dia eu não deixei ele me tocar e tal e ele me bateu. Tirou minha roupa e fez sexo comigo. Depois eu nem sabia direito o que tava acontecendo e ele me bateu de novo e me jogou no chuveiro pra eu me limpar.

Apanhar era uma coisa normal na minha família. Minha mãe e minha vó as vezes apanhavam do meu pai e do meu avô

Minha mãe fazia faxina naquela época, antes de voltar a estudar e se formar em técnica em enfermagem. Ela trabalha num hospital até hoje. Meu pai tinha outra família e foi embora. A gente morava com meus avós.

Então minha mãe e minha avó começaram a falar que eu tava na época de menstruar porque eu tava ficando com seios e engordando. Isto eu sabia o que era porque minha mãe conversava comigo bastante e no colégio várias gurias ficavam, e compravam absorvente, e tinham cólicas. Mas comigo foi diferente. Um dia fiquei com febre, febrão mesmo. Passei o dia na cama. Quando minha mãe chegou me levou pra um hospital e disseram pra minha mãe alguma coisa. Ela volta e me sacode e me dá uma bofetada. Não entendi nada. Nem lembro de mais nada, só sei que dormi um bom tempo. Não lembro mais de uma porção de detalhes que aconteceram, mas lembro que minha barriga doía muito e eu sangrava. Achava que simplesmente eu tinha menstruado e a febre podia ser isto – menstruação que não vinha. Mas aí minha vó, que era mais calma e rezava o tempo todo me contou. Eu tive febre por causa da garganta, mas quando cheguei no hospital disseram que eu tava grávida. Como isto podia ser? Minha vó falava e as palavras não entravam na minha cabeça. Ai ela me perguntou quem tinha sido o homem que tinha feito sexo comigo. Foi só nesta hora que eu entendi. Na hora eu não tive coragem de contar nada e disse que tinha sido na rua, um homem desconhecido que tinha me pegado e eu tive medo de contar.

Passou um tempo, eu faltei tanta aula que acabei rodando. Meu avô voltou a me incomodar e eu não queria porque sabia que tinha sido ele. E ele também sabia de tudo, mas ninguém falava.

Até que aconteceu de novo, ele me pegou a força e me estuprou e foi horrível porque aí eu tinha noção. Então eu gritei por socorro e uma vizinha da minha mãe veio e ajudou. Ela contou pra minha mãe que via ele mexendo comigo, mas também não tinha coragem de contar. Ninguém falava comigo sobre nada. Meu avô parou de abusar de mim e minha mãe e minha vó cuidavam mais, eu acho.

Quando eu já tinha uns 15 pra 16 anos, eu estudava a noite pra trabalhar de dia, eu voltava pra casa e um carinha lá da vila me estuprou. De novo fiquei grávida. Mas aí as pessoas já te tratam como uma mulher experiente. Minha mãe me deu uma injeção, ela mesmo, e dois dias depois menstruei e tudo volta ao normal.

Depois eu tive um namorado legal e saí de casa com 17 anos. Nunca contei nada pra ele, achei que eu tinha que ter vida nova. Não fiz mais abortos, mas tive duas meninas com ele. Me separei dele porque ele me batia e eu não queria levar aquela vidinha da minha mãe e da minha vó. Comecei a trabalhar em casa de família. Depois conheci um cara bem mais velho – eu tinha 26 e ele tinha 50. Tivemos um guri e ficamos juntos 10 anos.

Aí o meu destino veio me atacar de novo. Descobri que ele abusava das minhas filhas (uma de 14 e outra de 13), mas eu não sabia, claro, e a mais velha engravidou dele. Meu Deus, que pesadelo. Não foi como antes, que no hospital eles resolveram quando eu tinha 12 anos. Como a uma guria linda, minha menina, e eles não queriam fazer o aborto no hospital? A gente só chorava e não sabia pra que lado ir. Disseram que ela era anjinho esperando outro anjinho que eu deixasse e criasse tudo junto. Mas não tava certo. Como ela ia aparecer no colégio de barriga? Iam gozar dela, e achar que minha filha era puta. Como tinha gente que dizia pra minha mãe na época. Então uma pessoa da vila onde eu morava me apresentou uma moça muito legal que sabia como me ajudar. Mas tinha que pagar bem caro. Pedi emprestado no serviço e levei a guria pra fazer o aborto.

Pra proteger meus filhos eu me separei. Ele parecia um homem bom e todo mundo gostava dele, pagava tudo dentro de casa. Parecia que me adorava, mas era pedófilo. Um tempo depois achei que foi só por isto que ele ficou comigo. Voltei pra casa da minha mãe com as crianças. Hoje tenho 40 anos, a mais velha 23 e a do meio 22, a gente se cuida mais e conversa sobre tudo. As gurias estão na faculdade e o mais novo ainda no colégio, ele tem 14.