#clandestina55

26 e 32 anos, branca, São Paulo (SP)

 

Aos 26 anos, começando um namoro, engravidei inesperadamente. Percebi bem rápido, no começo da gravidez, e já contei para meu namorado dizendo que não ficaria grávida por muito tempo. Fiquei muito aflita para achar um local seguro, ouvi relatos de vários tipos de clínicas, e conversando com amigas tive indicação de um ginecologista que fazia o procedimento no seu consultório. Fiz a consulta com ele, que sugeriu um tempo para eu pesar e definir se eu queria mesmo abortar, mas eu insisti que preferia fazer logo.

Fiquei entristecida, mas muito aliviada, pois tinha certeza que não era o momento, ainda estava fazendo o mestrado, e começando a ganhar minha autonomia. Seis anos depois, ainda com o mesmo namorado, mas já morando juntos, engravidei de novo, e desta vez tive dúvidas, mas aos 32 anos fiz um outro aborto. Esse me entristeceu mais, fiquei na dúvida, mas meu companheiro não queria ter filhos ainda, e eu hesitei, achei melhor adiar a ideia.

Voltei ao mesmo médico e novamente fui muito bem atendida. Nas duas vezes fiz o aborto no consultório, com anestesia local, e um equipamento de sucção. Tive consulta na semana seguinte, e um acompanhamento muito bom do médico, sem nenhum problema nem complicação. Mas sei que sou privilegiada por ter tido acesso a esse tipo de atendimento. Depois, quando estávamos mais estáveis em termos de trabalho e carreira, tivemos duas filhas, planejadas e amadas, que vieram em boa hora, sem susto. Adoro minhas filhas, e sei que naquelas vezes ainda não era hora mesmo.

Sou totalmente a favor da legalização do aborto, para que todas as mulheres possam ter o mesmo bom atendimento e escolha que eu tive. Sei que muitas mulheres sofrem muito por falta de acesso ao aborto seguro, e algumas pagam inclusive com suas vidas.

Hoje tenho duas filhas, 14 e 7 anos e não tenho crença alguma.