#clandestina71

Branca, 15 anos, São Vicente.

Fui a uma festa e transei com um rapaz que não conhecia. Ele tirou a camisinha e eu só percebi quando terminou. Não havia pílula do dia seguinte na época. Descobri a gravidez tarde, já que minha menstruação verá desregrada. Comecei a vomitar. Enfiava objetos na vagina para tentar abortar. Pedi dinheiro à família com desculpas esfarrapadas. Comprei citotec e não funcionou. Entrei em pânico. Contei pra minha avó. Ela contou pra minha mãe que me levou no médico. Ele disse que eu tinha pouco tempo pra fazer o procedimento. Marcamos pro dia seguinte. Método aspiração. A mãe fez empréstimo no banco. Na hora me senti aliviada. Mas a família nunca abordou o assunto. Era como se nada tivesse acontecido. Isso doeu. Queria que alguém me perguntasse como eu estava me sentindo. Nunca ninguém perguntou nada, nem quem era o pai. Eu não saberia dizer. Fui criada sem pai e não queria que meu filho passasse por isso. Nunca me casei, não tive filhos. Hoje tenho 43 anos. O aborto dói. Não há como esquecer. Mas fiz o que tinha de ser feito. Sou a favor do aborto legal e seguro. Sou a favor para que todas as mulheres possam ter o mesmo direito que já é dado para quem pode pagar.