#clandestina04

28 anos, Paraguai.

Mãe, professora, bem casada, feliz! Mas errei as contas, transei sem camisinha e engravidei. Trabalhava muito, fazia mestrado e escrevia projeto para doutorado. Instruída, segura e professora. Branca. Casamento estável, família estruturada. O contrário das estatísticas.

Morava numa cidade minúscula, não sabia de nenhuma clínica ou médico que aceitasse ajudar. Meu marido e eu conversamos, decidi – eu primeiro, afinal é tudo no meu corpo e, por mais que ele seja um bom pai, quem “guenta as pontas” é a mulher – que faria aborto.

Conhecia citotec, algumas amigas já haviam tomado e deu certo, pra outras, não; não queria citotec. A saída rápida, prática e segura seria uma clínica. Morávamos numa cidade perto da fronteira, fomos ao Paraguai, uma amiga, meu marido e eu. Andamos pelas farmácias perguntando, assim, na cara dura, “Vocês sabem quem ou onde faz aborto?”.

Depois de passar por muitas, numa delas encontramos um sujeito disposto a ajudar: “400 reais”, ele disse; “numa clínica aqui perto, paga o táxi até lá e eu dou o endereço”. Fomos,
fiz, acordei muito estranha, mas muito aliviada. Não é algo bom de lembrar, penso como seria essa criança, mas não me arrependo.