#clandestina05

18 anos.

 Aconteceu quando eu tinha 18 para 19 anos.  Tive uma transa casual, usei uma pílula do dia seguinte e 5 dias depois tive uma tontura. Eu já sabia que estava grávida.

Logo nesse 5º dia eu contei a ele e a minha mãe (que começou rapidamente com as críticas e brigas) e fizemos um exame de sangue apenas 2 ou 3 dias depois do atraso menstrual, mas que positivo. Disse a eles que eu não o teria, nunca tive vontade de ser mãe, tenho na verdade bastante aversão a essa ideia. Fiquei desesperada. Minha mãe era contra e me disse coisas horríveis. Meu parceiro disse que me apoiaria se eu realmente quisesse fazer isso. Depois ele mudou de ideia e decidiu que não me ajudaria.

No meu desespero, cogitei a hipótese (bastante infantil) de me matar, me jogar na frente do primeiro caminhão na rodovia. Com medo, minha mãe conversou com ele e resolveram me apoiar, contanto que eu procurasse um método e tudo o mais sozinha.

Encontrei um site na internet que apoia mulheres que desejam abortar mas não têm condições seguras em seus países, oferecendo um método medicamentoso por correio. Pesquisei bastante pra saber se o site era confiável, li depoimentos de mulheres que fizeram uso do medicamento.

Pelo site, respondi a uma série de perguntas e eles pediram que fizesse uma ultrassonografia para saber se eu não tinha uma gravidez ectópica. Fui a uma consulta, disse ao médico que estava grávida e não queria levar adiante, só precisava de um pedido para o exame. A expressão dele me fez sentir horrível.

Correu tudo bem, fiz o pedido e os medicamentos chegaram em mais ou menos três semanas. Fiz o aborto em casa, com minha mãe por perto. Na ocasião, ela estava preocupada e tentou de alguma forma me ajudar, mas hoje sempre que pode ela “joga isso na minha cara”, ameaça contar para o meu pai, diz que “o que eu fiz COM ELA foi um absurdo, onde já se viu eu ter que passar por isso”, “como você teve coragem”, etc.

Para mim foi um alívio, não sinto arrependimento e não acho que mereço ser julgada e repreendida para sempre. Nunca vou esquecer o medo, a insegurança, a solidão. Não gostei de fazê-lo, não acho que é algo que se deva fazer a torto e a direito, mas uma mulher não deve ser obrigada a parir um filho que não deseja. É o seu corpo, sua vida que muda, suas regras.