#clandestina07

17 anos, Minas Gerais.

Namorava há dois anos o cara que achava que seria o homem da minha vida, com quem perdi a virgindade. No começo eu até tomava remédio, usávamos camisinha e tudo como manda o figurino, mas como ele sempre disse que se eu engravidasse ele seria o cara mais feliz do mundo e nos casaríamos fiz a burrada de interromper o remédio.

A primeira dúvida veio, fizemos o exame e deu negativo. Porém dias depois disto ele terminou comigo, mas, como somos vizinhos, sempre tínhamos recaídas (sempre mesmo! Todos os dias). No mês seguinte a dúvida voltou, disse a ele que teria que fazer o exame e ele me disse que não me levaria pra fazer, que eu não iria fazê-lo porque eu não estava grávida. Uma amiga entrou na briga tomou minhas dores e me levou pro laboratório (como era menor precisava da companhia de um “adulto”), ele buscou o resultado e pronto: estava grávida.

Eu fiquei em êxtase  teria um filho com o homem da minha vida e achei que isso nos uniria novamente. Sabia que passaríamos por dificuldades pois éramos novos, mas acreditava que superaríamos tudo e nossas famílias não nos deixariam passar necessidade. Bom, não foi exatamente isto que aconteceu. Contei à minha tia mais nova, a tia dele e para a avó dele, todas ficaram tão felizes quanto eu. Minha amiga começou a fazer planos pra enxoval, eu realmente estava vivendo um sonho.

Quando cai do cavalo e resolvi abortar? Quando ele me disse que não assumiria o bebê, que estava muito novo pra ser pai (sim gente, esse é o mesmo cara que sempre me disse que queria ter um filho comigo e que era o maior sonho dele), disse que se eu abortasse ele voltaria pra mim e ficaríamos juntos novamente. Eu como uma bobinha apaixonada que sou, acreditei e pensei “teremos outras oportunidades, vamos ficar juntos, vamos nos casar”. – Fiz a cagada de aceitar sua proposta.

Ele comprou os remédios e, em um fim de semana em que meus pais estavam viajando, fiz o uso. Foi tudo como uma menstruação, mas eu pude sentir o feto, mesmo que pequenininho , caindo no vaso. Fiquei sangrando por mais uns dias e pronto, tinha abortado. Na verdade nestes dias a única coisa que eu pensava era que seríamos felizes e eu iria ficar com ele novamente. Contei à minha tia que tinha sido “alarme falso”, e quanto à família dele, ele resolveu.

Nós voltamos, ficamos juntos por um mês e, claro, ele terminou comigo de novo. Eu entrei em uma depressão enorme, achei que seria infeliz pelo resto da vida. Que morreria. Em datas comemorativas ligava pra ele, xingava-o, dizia que eu não tinha meu filho(a) por culpa dele, que nunca iria lhe perdoar. Fiz isto por muitos anos.

Até que conheci meu noivo e decidi dar uma nova chance pra vida. Estamos juntos há dois anos, e só a seis meses tive a coragem de contar essa história a ele, pois imaginava que ele me julgaria e quem sabe poderia até romper comigo (visto que é ativo na igreja e também sonha em ser pai). Mas o que aconteceu foi surpreendente, ele me ajudou e me ajuda a superar isto a cada dia.

Hoje não penso mais em ser mãe rápido, nos casaremos em abril do próximo ano, e daqui a uns três anos pensarei em ter filhos (mas confesso que tenho medo de não conseguir por conta do aborto). Não consigo falar a respeito com meus pais, que eu acho que sabem, mas fingem de bobos, e também não consigo ir a um ginecologista perguntar e fazer exames se necessários.

Tenho 21 anos e sou uma clandestina.