Clandestina 08

16 anos.

Tinha pouco mais de 16 anos. Era meu primeiro namorado, naquela empolgação e ilusão, achei que fosse pra sempre, marquei bobeira, não me cuidei o bastante e engravidei.Quando contei das minhas suspeitas, ele terminou tudo. Mesmo falando que eu não teria o bebê, que só queria ajuda para procurar uma clínica e que depois cada um iria para seu lado, acabei sozinha.

Eu estava no terceiro ano e focada no vestibular, meus pais estavam se divorciando, então, contar com a minha mãe para me ajudar era impossível (mesmo sabendo que em
outras circunstâncias ela me ajudaria).

Sozinha e sem muito dinheiro, recorri à ajuda de uma amiga que, com a mesma idade que eu, também mal tinha como me ajudar. Uma clínica estava fora de cogitação devido ao preço, então fui na opção mais em conta que eu tinha: Citotec.

Foi a segunda pior dor que já senti… Queimava, doía e sangrava. Depois de alguns dias, ainda com muito desconforto, fui ao hospital e fui submetida a uma curetagem para retirar possíveis resquícios. Fui tratada igual lixo, e talvez essa sim tenha sido a pior dor.

A equipe de enfermagem falava barbaridades, como se eu não estivesse escutando, o médico me olhava com desprezo. Imaginei quantas outras mulheres tinham passado por uma situação igual ou pior, quantas outras tinham se sentido criminosas ao optar por não ter um filho que não poderiam criar (seja lá por qual motivo).

Hoje em dia, já superei tudo o que passei e aprendi que, apesar de clandestina, quem manda no meu corpo sou eu.