#clandestina10

19 anos, Seropédica (Rio de Janeiro).

Pouco antes do meu aniversário de 20 anos, descobri que estava grávida. No mesmo instante decidi que não queria ter este filho. Após diversas tentativas de abortar com chás de todos os tipos possíveis, comecei a procurar quem “fizesse o serviço” com mulheres que já tinha abortado propositalmente.

Encontrei duas, sem dificuldade . Conversei com a minha mãe (que ja abortou uma vez) e ela não me apoiou, chamou-me de criminosa e disse inclusive que se eu fosse presa por isso seria bem minha culpa, e que o Estado não deve nem pode se responsabilizar por minhas “burrices”, nem tem a obrigação de me proporcionar atendimento médico num caso desses ( imagine!).

Encontrei, por fim, uma senhora, que não atendia em sua casa e que cobrava 500 reais para perfurar o útero. Uma das mulheres me indicou esta senhora e disse que quase tinha morrido quando realizou o procedimento com ela. Fiquei com medo e continuei procurando outras maneiras. Não foi difícil achá-las.

Rapidamente, encontrei quem vendia um similar do CITOTEC, por 200 reais, em um município vizinho, e outro que vendia (pertinho da minha casa!), por 100. Creio que, se continuasse procurando, logo acharia mais. Eu introduzi o medicamento em mim mesma, e em uma semana já não tinha mais filho.

No hospital que fui atendida, logo na recepção uma enfermeira perguntou: “Tomou Citotec?”. Eu disse que sim e ela virou o rosto. Com isso, pode-se ver como essa prática é comum. Éramos quatro, só que as outras moças tinham sofrido aborto espontâneo . Me surpreendi ao ver como alguns funcionários da área de saúde (por minha sorte, foram poucos comigo) maltratavam estas moças, assim como a mim.

Enfim, creio que se não tivesse sido atendida, teria morrido. Fui com medo, mas fui. Muitas mulheres nem vão, temendo a prisão, e acabam morrendo. E  é de se saber que o aborto é  uma prática corrente e que possui inúmeras maneiras de ser feito.

Por que não discutir mais sobre, ou garantir que estas mulheres não precisem se submeter (como já se submetem) a certos riscos maiores?