#clandestina37

18 anos.

Quando começou a atrasar a menstruação em momento nenhum me passou pela cabeça que estava grávida, meu namorado sofre de algum distúrbio que o corpo não produz espermatozoide que seja capaz de fecundar um óvulo, e mesmo com esse problema nós sempre nos cuidávamos, no mais inconsequente foi o coito interrompido.

Quando fiz o teste meu mundo caiu, vi aquele positivo e queria me jogar da janela, uma amiga que estava comigo ficou super feliz e eu só pensava “Meu Deus, Meu Deus, o que faço agora”. Sai de lá correndo para casa do meu namorado e ele também ficou feliz, apesar da nossa situação financeira estar terrivelmente péssima, ele disse “Deus mandou para abençoar”.

Eu não me via como mãe, mas acima de tudo eu não queria colocar uma vida no mundo para sofrer, já tinha inúmeros problemas em casa, no trabalho, a família do meu namorado também seria horrível, seriam julgamentos pra todo lado, tentava vendo o futuro e todos apontando o dedo e ninguém oferecendo um apoio.

Foi então que sozinha, busquei algumas informações sobre aborto na internet mesmo, tentei contato com uma moça que eu sabia que era formada e era super a favor da liberação, imaginei que ela tinha contatos. Mandei uma mensagem e para minha surpresa ela agiu como uma mãe para mim, me amparou emocionalmente e me ajudou a correr atrás de pessoas que já tinham feito ou sabiam de clínicas.

Conheci algumas clínicas que fariam tudo do jeito mais seguro possível, porém o preço era muito maior do que eu podia pagar. E eu estava sozinha nessa, não podia pedir ajuda (muito menos financeira) para namorado, mãe ou pai. Ninguém. Então me apresentaram o Cytotec, que seria muito mais em conta e daria para fazer em casa. Comprei e guardei em casa.

Sozinha no quarto, tomei a primeira dose sublingual as 2h da manhã, logo tive inúmeros calafrios e meu corpo tremia muito, passando exatamente 30 minutos eu comecei a vomitar muito, e minha mãe acordou, aleguei que a janta tinha me feito mal e voltei a dormir. Acordei para tomar a segunda dose e antes de colocar os comprimidos na boca eu tomei alguns copos de água, o que me fez vomitar muito.

Tomada a segunda dose, 20 minutos depois as cólicas fortes começaram e eu respirava fundo e tentava não fazer barulho, quando as cólicas cessaram eu tirei mais um cochilo, quando acordei estava toda molhada de sangue e era hora de tomar a terceira e última dose, fiquei com medo da dor aumentar, porém era preciso, tomei e o sangue aumentou, assim como as cólicas. Quando amanheceu chamei a minha mãe e mostrei o sangue e falei que tinha passado muito mal, ela ligou para o meu sogro e fomos para o hospital, lá a médica disse que o canal do útero estava aberto e que seria necessária uma curetagem.

Me internaram para o procedimento, tomei uma anestesia raqui, superforte, que me deixou sem movimentação na parte de baixo do corpo umas 7 horas. Fiquei internada um dia para observação e depois fui liberada. O médico disse a minha família que era alguma má formação que tinha causado o aborto. Que o próprio corpo expulsou e isso fez com que ninguém tocasse no assunto.

Quando voltei para casa só queria descansar e ficar tranquila e comecei a perceber que minha mãe tentava me causar algum gatilho emocional, toda hora falava de alguma gravidez de prima de alguém do trabalho, a mulher do meu tio, vizinhas, alguém que descobriu o sexo, ultrassom e etc. O que fez eu querer me afastar mais ainda dela. Esse foi o único incomodo. Não me arrependo!