#clandestina60

Sou mãe de duas meninas, uma delas tinha apenas 1 ano e 3 meses quando engravidei. A ideia de ter outro filho dependendo tanto de mim, mamando, acordando à noite, me chamando, me apavorou muito, eu tinha vontade de morrer. A gravidez e o puerpério são momentos em que a vida da mulher fica suspensa, como numa bolha sobrevoando a realidade, é preciso querer muito e talvez ter esquecido dessa sensação. A sensação de suspensão ainda é muito viva em mim, mesmo com um bebê de 1 ano e 6 meses e eu não queria passar por nada daquilo de novo. Além disso, meu companheiro, com quem estou há 4 anos, está há 1 ano desempregado e uma gravidez não combinaria com nossa situação financeira. Me imaginar grávida me causava ódio. Engravidei no primeiro ciclo após o parto, estava bem perdida com os contraceptivos, com período fértil e foi um susto muito grande. Demorei para fazer os teste porque não queria acreditar. Nossa sorte foi ter uma amiga que trabalha em uma organização internacional que envia para mulheres de muitos países comprimidos abortivos, só precisávamos de 300 reais, que conseguimos com essa mesma amiga que mora na Europa.

Fiz o procedimento com 9 semanas. Primeiro o mife e 24 horas depois 4 comprimidos de miso. A dor foi bem grande e o sangramento também! Fiquei em contato com uma moça de um coletivo feminista, pra quem liguei várias vezes durante o processo, que me ajudou muito!

Meu companheiro ficou comigo o tempo todo e isso foi muito importante. Assim que a bolsinha saiu, eu senti ela descer pelo canal, a dor parou e eu senti um alívio muito grande! Tomei os miso às 9 da manhã e às 15 horas o processo já tinha terminado. Nunca me senti tão aliviada. A gratidão por essas mulheres que estiveram comigo é enorme e eterna, tão grande quanto pelas mulheres que me acompanharam durante o parto da minha filha mais nova!

Sou a favor da legalização. O aborto clandestino mata mulheres que não tem acesso à informação, não tem dinheiro para pagar comprimidos ou procedimentos. O aborto clandestino criminaliza as mulheres, as coloca em risco. Legalizar o aborto é falar sobre ele, é mostrar a verdade, é possibilitar que a mulher escolha por seu corpo, por sua história!