#clandestina81

Branca, 22 anos, São Paulo (SP).

Sou estudante de medicina, primeiro ano, e a última coisa que imaginei na minha vida seria que um dia teria que escolher em fazer ou não um aborto. Foi aceito decisão que tive que escolhe, apesar de ter sido a melhor escolha. Todo mundo julga até viver na pele a falha de um anticoncepcional/ um deslize. As pessoas pensam que sempre estão livres disso, que nunca vão acontecer com elas. Eu pensava isso. E pensava ainda que nunca teria coragem de fazer esse procedimento. Pois bem. Aconteceu comigo. Não fui a primeira, e nem a última. Não estamos sozinhas. Só quem vive uma gravidez indesejada sabe o que é isso, julgar é diferente de viver na pele. Como todas vocês sabem, não foi fácil, nunca é. Me sinto mal por ter que guardar esse segredo, pois sei que seria julgada socialmente, e sei que é crime no Brasil, HOJE. É muito difícil, porque se escolhermos a gravidez, seríamos julgadas de qualquer forma, ou pela idade, ou pelo fator social em que vivemos. Se abortamos, somos monstros sem nenhum perdão de Deus. Felizmente tive a sorte de contar com o apoio de meus pais, mostrando verdadeiramente desamparada, infeliz, angustiada; eu sabia desde o começo que aquilo não era só uma “fase difícil” que eu ia superar como outras pessoas. Tive medo do futuro, desesperador, por falta de condições financeiras de minha parte, a carreira que estava sendo colocada à prova de balas que tantos anos estudei para conseguir uma aprovação, falta de preparo psicológico total, pressão social é muita dor. No fundo, sei que fiz o melhor no presente. Desejo a todas boa sorte com o aborto. Vocês não estão sozinhas.