Morena, 22 anos, Cuiabá (MT).
Eu sou estudante, universitária na faculdade de Geografia, e recém concursada. Não esteve nos meus planos em nenhum momento, ter filhos agora. Moro sozinha há dois anos, e comecei a namorar um rapaz da minha sala, desde quando saí de casa praticamente. Por isso, estamos juntos há dois anos também.
Não tínhamos muitos cuidados na hora do sexo. As vezes, transávamos com camisinha, mas frequentemente, transávamos sem. Nosso método de prevenção era o famoso coito interrompido. Ficamos transando assim um tempão, até que numa dessas, na festa de aniversário dele, eu engravidei.
Descobri que estava grávida com 06 semanas, no banheiro de um shopping. Tinha uns dias que eu estava sentindo leves enjoos, mas achei que fosse só virose. Fui sozinha ao shopping, e comprei o teste de gravidez por desencargo de consciência: POSITIVO! Não consegui acreditar que aquilo estava acontecendo comigo, e não queria acreditar… comprei outro teste, e deixei para fazer perto do meu namorado.
Fui embora pra casa dele, desnorteada, e encoberta de pensamentos devastadores..”E agora?! Como vou criar esse filho, sendo que estou pra terminar a faculdade, e a fim de encarar o mestrado? Não tenho nem casa direito, moro numa república de estudantes, como vou dar uma vida decente a essa criança? Não consigo me ver mãe! Não vou conseguir amamentar!” Enquanto eu pensava estas coisas, lágrimas desciam dos meus olhos sem cessar.
Avisei meu namorado, que estava com os amigos dele… Ele ficou igualmente sem chão, pois não esperava que eu engravidasse. Voltou para casa, e assim pude refazer o teste com ele junto: POSITIVO, GRÁVIDA.
A reação dele, foi querer ter o filho, e aceitá-lo. A mãe dele adoraria ter um neto num momento daquele, e aquele acontecimento, poderia trazer muitas alegrias. Porém, não conseguia entrar na minha cabeça, interromper o término da faculdade e adiar o mestrado. Amamentar todas as noites quando o bebê chorar. Deixar de sair com meus amigos. E além disso tudo, eu tinha vergonha da sociedade e da minha família, com pensamentos como: ” Nossa, 22 anos e já está grávida do namorado!!” “Poderia ter se prevenido hein” “Você, tão jovem, tem tudo pra viver, e já é mãe!”.
Tudo isso me deixava mais triste ainda, apesar de hoje eu compreender que a preocupação com pensamentos alheios eram bobagens minha.
Na noite em que descobri isso, eu chorava, chorava. Meu namorado estava preocupado, e já devia estar agoniado com a situação. Dois dias depois, fomos fazer ultrassom: Grávida de 6 semanas e 3 dias.
Meus enjoos eram daqueles que não me deixavam em paz: Pouca coisa entrava no meu estômago, e aromas me enojavam, o que deixava minha rotina mais difícil e desprazerosa. Não conseguia ficar em pé por muito tempo, por causa do excesso de cansaço, e as dores nas costas e nos seios começavam a surgir. E isso tudo me chateava, pois me limitava com relação ao meu humor e o meu físico.
Poucos dias depois, contei para uma amiga, pois precisava desabafar… estava praticamente decidida pelo aborto, pois eu não conseguia me ver mãe, desgostosa de toda a situação. Encontrei um site que ajuda mulheres neste caso, porém não dei crédito, achei que não fosse confiável. Essa minha amiga, novamente me indicou o site, evidenciando que era confiável. Fui olhar. WHW. Ajudavam mulheres, mas pediam uma doação (paguei cerca de 360 reais em 13 pílulas, 1 de Mifepristone e 12 de Misoprostol). Efetuei o pedido das pílulas e elas chegaram cerca de 3 semanas depois, contando com a data do pedido.
Conversei com meu namorado. No começo, ele queria o filho, por questões morais e acreditar que aquilo nas nossas vidas seria uma benção. Depois, ele resolveu me apoiar no que eu decidisse, porque o fardo maior seria meu, e compreendeu minha situação, aceitando qualquer decisão. Isso foi crucial pra mim, me deixava mais decidida.
Neste meio tempo de espera das pílulas, eu meio que aceitava minha situação de grávida. No serviço, já desconfiavam. Passei mal uma vez, e as mulheres me diziam que eu estava com cara de “gravidinha”.
Eu pensava como seria minha vida de mãe, e minha vida sem ser mãe. A minha vida sem ser mãe, era obviamente mais tranquila. No fundo, eu queria aceitar a gravidez, tudo seria mais fácil. Eu feliz, grávida, com um bebê para alegrar as famílias, e tendo um filho com um cara que eu gosto muito. Mas eu não conseguia aceitar a ideia de ser mãe.
Como dito anteriormente…depois de 03 semanas, chegou as pílulas, onde foram entregues na casa da minha amiga que tinha me ajudado. Ela (não sei se era coincidência do destino) estava ajudando outra amiga dela, grávida, na mesma situação que a minha, a abortar. Minha amiga acreditava que o filho deve vir para ser amado, e não por acidente. Se o filho não for planejado, pode, dependendo da mulher, acarretar situações difíceis, diferente de quando é uma gravidez desejada.
Então a outra menina acabou realizando o aborto com 04 pílulas de Misoprostol antes de mim. Minha amiga contou o quanto foi difícil realizar aquele procedimento, devido ser muito doloroso e agonizante. Aquilo então, nas vésperas de eu abortar, me deixou aflita.
ESTAVA tudo preparado para eu abortar, meu namorado estaria comigo, o irmão dele estaria pra ajudar com primeiros socorros, minha amiga estaria pra me ajudar também, mas eu não queria sofrer daquele jeito. Não queria passar por aquela situação, e ao mesmo tempo, não estava alegre em ter o filho. Eu acreditava que não merecia isso, mas por erro meu, teria que passar por aquilo e ter forças pra aguentar. Todos que estavam me esperando pra realizar o aborto. Quando eles foram embora, e eu acreditei por um momento que teria aquele filho, e o criaria. Eu chorava. Soluçava. Não queria comer nada, e também não aguentava comer. Todos tentavam me convencer, inclusive meu namorado, que passou a aceitar a situação. Estava uma pilha de nervos e estresse aquela noite. Foi a noite que mais sofri psicologicamente na vida. E no fundo, eu já pensava no bebê. Sonhei várias noites com ele, e achava que seria uma menina. Mas as consequências de um bebê na minha vida, me deixava mais aflita. Dormi. Acordei. Vi que um bebê naquele momento não seria pra mim. Decidi pelo aborto, e todos novamente vieram para me ajudar.
Antes de colocar as pílulas na boca, eu chorava… novamente comecei a pensar em mim e no bebê. “Estou interrompendo uma vida. Porque estou fazendo isso, se simplesmente posso aceitá-lo?”
Outra voz ecoava na minha cabeça: “Porque ele vai acabar interrompendo SUA VIDA, por vários anos. BEBA ESTE REMÉDIO E ACEITE AS CONSEQUÊNCIAS! VOCÊ PODERIA TER EVITADO ISSO TUDO, MAS AGORA JÁ É TARDE”. Pensei então: PELA MINHA VIDA, e coloquei 04 pílulas abaixo da língua e entre as bochechas.
Como estava fraca, e não tinha comido nada, porque não aguentava nada no estômago, na primeira hora já comecei a ter muitos calafrios. Tiveram inclusive que me aquecer, de tanto frio que eu tinha. Sentia minhas mãos e pés gelados, extremamente frios. Um tempo depois, comecei a ter cólicas fracas. Daí tive febre. A febre abaixou, e logo vieram as terríveis cólicas.
Foi a pior dor da minha vida, sentia facadas no ventre. Vomitava, e tinha diarreia. Não conseguia tomar o Ibuprofeno devido as náuseas. Acredito que fiquei agonizando de dor durante 01:30.
Até que tive novamente diarreia. Fui ao vaso e senti duas coisas GRANDES saindo de dentro de mim, e as cólicas na hora, acabaram. Tinha praticamente certeza que era o feto. Eu não queria ver os produtos da gravidez, para não ficar mais traumatizada e dúvidas do que eu fiz. Minha amiga e a outra menina que tinha abortado (tinha ido me ajudar), foram no vaso confirmar a saída do feto, e confirmaram: aborto realizado com sucesso. O procedimento durou cerca de 04:20 minutos, com 06 pílulas de Misoprostol e dois dias antes eu tinha tomada um Mifepristone. Foi um alívio sair daquela agonia. Meu namorado e todos ficaram aliviados por aquilo ter acabado. E eu estar bem.
Fiquei pensando na vida que eu tinha tirado, me sentindo culpada. Isso me deixava tão triste. Chorava, ainda naquela noite, em silêncio. Eu não estava feliz daquilo ter acabado. Zilhões de pensamentos e sentimentos rondavam minha cabeça. E isso me entristecia, porque eu gostaria de estar feliz, mas não estava. Porém, depois de dias do acontecido, eu me acostumei com a ideia de ter tido que abortar, mas ainda não me sinto feliz por ter feito aquilo.
Você, que está lendo este depoimento, previna-se de todas as formas para não engravidar. Não deixe para resolver este problema num procedimento de aborto. É muito doloroso, e pode afetar o psicológico, dependendo da mulher, se ela não estiver totalmente decidida.
Aborto, não quero nunca mais para minha vida, porque não é um procedimento fácil, desgasta muito a mulher, por isso, me prevenirei de todas as formas para não engravidar. A mulher que for passar por este procedimento, com certeza terá que ser decidida e forte. Abortar ou ter um filho, são procedimentos que exigem muito de nós mulheres, por isso, o melhor é sempre se prevenir.
Sou a favor da legalização do aborto, porque quem carrega o bebê É A MULHER. A gravidez é levada adiante no corpo de uma mulher, LOGO ELA QUE TEM QUE MANDAR EM SEU CORPO, E NÃO UM FETO. Se todas as pessoas que são contra o aborto adotassem crianças deixadas no orfanato, e dessem apoio psicológico e financeiro para essas mulheres que tem gravidez indesejada, com certeza elas nem pensariam em abortar. Mas não. As pessoas preferem julgar ao invés de ajudarem. Se fazer um aborto já um procedimento muito difícil e doloroso, imagine uma gravidez indesejada, que é para a vida toda. AS MULHERES SÃO DONAS DE SEUS CORPOS.